O colega Magalhães

O Magalhães continua de boca em boca, desta vez porque a Sic veio dar a conhecer aos Portugueses aquilo que aqui na blogoesfera se disse desde o dia 0: o Magalhães não é português. A tecnologia não é portuguesa, é da Intel, licenciada aos vários países para depois que seja integrado (montado) e feitas as devidas alterações. Quando dizem que a tecnologia do Magalhães é 30% portuguesa, gostava de saber mais sobre esses 30% e quando dizem que pode chegar aos 70% aí ainda fico mais interessado… mas isso são outros 10 cents.

Tal como o Pedro, concordo que o Magalhães é um bom projecto para Portugal, mas discordo com ele no sentido em que devemos aplaudir o Governo. O Governo usou o Magalhães desde o inicio para auto promoção, José Sócrates veio bradar aos céus que todos os alunos iam receber o primeiro computador português… o que não se veio a verificar, pois de certeza que a maioria das famílias não tem capacidade para pagar um Magalhães depois de ter levado a talhada no orçamento com o aumento dos livros escolares e o Magalhães, que de Português… é o que já sabemos.

Outra coisa que não concordo é que o Magalhães seja entregue a crianças do primeiro ciclo, onde é mais importante que uma criança aprenda a ler, a escrever e a raciocinar. Nos outros países, os alunos que recebem o Classmate aka Magalhães, não têm 5 ou 6 anos, são do segundo ciclo, têm mais idade e mais capacidade para aproveitar a tecnologia.

A introdução do Magalhães nas aulas é outra coisa que ainda não gerou muito ruído, mas que o vai fazer, principalmente por parte dos professores. Os professores não foram avisados, ou melhor, souberam do Magalhães quando o resto de Portugal soube e a maioria deles não estão preparados ou não têm conhecimentos para lidar com um PC. Numa altura em que o governo reforma os professores cada vez mais tarde, vamos ter os professores primários de 50 e 60 anos a tirarem cursos de Windows (ou de Classmate 😛 ) para poderem dar uma aula minimamente centrada no Magalhães.
Outro ponto, quanto a mim bastante crítico, é o facto dos programas lectivos do 1º ciclo não contemplarem minimamente o uso do Magalhães nas aulas…

Acredito que o Magalhães traga benefícios para a educação, mas não da maneira como este projecto está organizado. A preocupação foi ter os computadores para mostrar e fazer a festa, o resto que se lixe, faz-se em cima do joelho. Acho que este ano teria sido mais importante para o Governo começar a participar nos custos dos manuais escolares.

Vamos ver o que o futuro trará ao Magalhães.


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13 responses to “O colega Magalhães”

  1. Tiago Avatar
    Tiago

    Concordo contigo, este governo fez muito show off à conta disto. Só serviu para atirar areia prós olhos dos portugueses, que é o que têm feito desde o ínicio!

  2. Pedro Couto e Santos Avatar

    Acho incompreensível que tanto adulto português continue sem compreender como funciona um Estado gerido por partidos políticos.

    É claro que o Governo está a fazer propaganda à custa deste projecto, é precisamente o que lhe cabe fazer: apoiar o projecto e, em seguida, gabar-se disso.

    Infelizmente, as pessoas que se queixam desta propaganda, são as mesmas que depois não votam porque não se sentem sensibilizadas.

    E o que há de errado com professores primários fazerem uma formaçãozinha? Se calhar até lhes faz é bem.

    Muito gosta o portuga de dizer mal… xiça.

  3. Mª João Nogueira Avatar

    Discordo de ti em alguns pontos, mas sobretudo quando referes que Magalhães é mais adequado a crianças mais velhas. Pelo contrário. Os alunos do 2º ciclo (5º e 6º anos) têm competências e/ou potencial para trabalhar com um computador “a sério”, daqueles do programa e-escolas. Os alunos do 1º ciclo (1º, 2º, 3º e 4º anos) têm todas as capacidades para aproveitar a tecnologia disponibilizada no Magalhães (e até mais novinhos, no pré-escolar).

    Já a questão da formação dos professores, sim, é óbvio que será necessária, e, quanto a mim, a parte mais complicada de todo este projecto.

  4. Odrakir Avatar

    @Pedro: acho que a maioria dos adultos sabe como funciona um Estado gerido por partidos políticos. Já estão habituados à banha da cobra. Mas lá porque os partidos podem insultar a inteligência da maioria dos portugueses, não quer dizer que o devam fazer. Continua-se a fazer politica para as massas como se fazia na altura em que 50% dos portugueses tinha a 4ª classe.

    @MJN: Continuo a dizer que neste momento o ensino português não está preparado para o Magalhães. É mais provável que as crianças usem o computador para jogar do que para fins educativos…

  5. Cláudio Franco Avatar

    Insultar a inteligência?

    Se há coisa que eu não percebo é porque raio temos que criticar sempre, mesmo quando as coisas são bem feitas.

    Quando há propaganda a medidas ridiculas e que servem REALMENTE para mostrar tudo bem, é propaganda no meu “melhor”.

    Agora porra, temos que admitir que o raio da medida é das melhores que têm havido nos últimos tempos. Desta forma iremos ter praticamente 100% de todos os jovens desde o 1º Ano até ao 12º com conhecimentos em tecnologias da informação.

    Como é que isto pode ser visto como propaganda política? É uma EXCELENTE medida, e o Governo está lá para receber os parabéns.

    A ideia é excelente ainda que realmente tenha algumas falhas, mas não tira o mérito ao Governo e neste caso, ao PS.

  6. robsan Avatar
    robsan

    Empiricamente: a minha filha tem 5 anos, só vai entrar na escola lá para Fevereiro (novo ano escolar moçambicano) mas já se ajeita bem com um PC e um rato. Aliás, recebeu agora uma prendinha, um EEPC 🙂

    Como tal, da minha experiência pessoal, posso dizer-te que estás errado relativamente à capacidade das crianças. Estás também errado, na questão dos jogos, que a meu ver não têm problema nenhum e existem bastantes de carácter educativo. A brincar se aprende…

    Quanto à questão política, tal como afirmado pelo Pedro, é assim o andar da roda: o partido que está no poder tenta implementar medidas populares (quanto mais perto das eleições melhor), enquanto os partidos da dita oposição achincalham até mais não. Agora, uma medida positiva é sempre uma medida positiva, independentemente das intenções iniciais.

  7. Mª João Nogueira Avatar

    Mas jogar, pode ser (e é) educativo 🙂

    Porque é que uma coisa divertida não ser pedagógica?
    O meu filho farta-se de aprender a jogar. E não me refiro apenas aos jogos que são feitos especialmente para o efeito (tipo o Prof. Isca Leto, à conta do qual o meu filho conhece as entranhas do corpo humano quase tão bem como eu), refiro-me a jogos, daqueles que têm por objectivo só o lazer. Enquanto estão a usar o computador, e perceber quais as funcionalidades do rato, e do cursor e demais coisas que para nós são simples, estão a adquirir competências.

  8. Odrakir Avatar

    @Claudio Franco: Eu concordo com a medida, só não concordo com a maneira como está organizada, apresentada e a ser posta em prática.

    @Robsan e MJN: Eu não digo que jogar não é educativo, muito antes pelo contrário. Eu tive o meu primeiro pc aos 9 anos e foi bastante benéfico. O que estou a defender é que na sala de aula, provavelmente não irá haver um acompanhamento eficaz por parte dos professores e uma utilização regrada por parte dos alunos.

  9. […] Viva o Magalhães – Paulo Querido; A SIC e o Magalhães – Pedro Cavaco; O Magalhães – Carlos Andrade; O colega Magalhães – Ricardo Saramago; Geração Magalhães – Ideias em Série; Share on […]

  10. Mª João Nogueira Avatar

    Mas vai haver Magalhães nas salas de aula, de forma sistemática?

    Tendo em conta que se trata de um equipamento OPCIONAL, poderá ser de utilização obrigatória?

  11. Odrakir Avatar

    @MJN: Segundo o TeK – http://tek.sapo.pt/noticias/computadores/magalhaes_as_duvidas_mais_frequentes_888456.html

    “As crianças do 1º ciclo são obrigadas a usar o Magalhães?
    Não há qualquer obrigatoriedade de uso do portátil.”

    No entanto, o ME está a preparar conteúdos especiais…

    “Foram preparados conteúdos especiais para os computadores Magalhães?
    Está previsto que o Ministério da Educação certifique uma série de conteúdos educativos que serão colocados no Portal da Escola e também pré-carregados no Magalhães.”

  12. […] A introdução do Magalhães nas aulas é outra coisa que ainda não gerou muito ruído, mas que o vai fazer, principalmente por parte dos professores. Os professores não foram avisados, ou melhor, souberam do Magalhães quando o resto de Portugal soube e a maioria deles não estão preparados ou não têm conhecimentos para lidar com um PC. Numa altura em que o governo reforma os professores cada vez mais tarde, vamos ter os professores primários de 50 e 60 anos a tirarem cursos de Windows (ou de Classmate ) para poderem dar uma aula minimamente centrada no Magalhães. Outro ponto, quanto a mim bastante crítico, é o facto dos programas lectivos do 1º ciclo não contemplarem minimamente o uso do Magalhães nas aulas… (Ricardo Saramago em O colega Magalhães) […]

  13. João Gouveia Avatar
    João Gouveia

    Concordo totalmente com as preocupações do Odrakir.
    Sou professora do 2º Ciclo. Assiste-se a que o Min. da Educação primeiro faça o “show-off”, e se esqueça de nos fazer chegar um aviso/nota/explicação do que está para chegar. Estamos preparados ? É evidente que nos adaptamos com TODA a facilidade, desde que seja sensato e benéfico para os alunos. Agora, não se esqueçam que temos planificações e objectivos muito bem definidos, por nós e pelo Min. Educação, que TERÃO de ser cumpridos. Temos formação universitária pedagógica para saber lidar com situações novas.
    É claro que o show-off foi usado para enaltecer a empresa e engenho do nosso país (mesmo que a percentagem do que é “nosso” seja dúbia, mas presumo que os americanos não enalteçam os chineses em plano análogo).

    A burocracia impera de tal forma no ensino, que começa a ser complicado ensinar devidamente (entenda esta frase quem tiver discernimento para tal). Há legislação quase diária. O ano lectivo começa com legislação a entrar com o ritmo de um jornal diário.

    Há PC’s nas escolas (embora poucos) que permitem aos alunos fazer trabalhos muito bons e ganhar até motivação para aprender. Inquestionável.

    Não sei como pretende o Ministério fazer a integração das máquinas na sala de aula, mas questiono-me sobre os resultados de ter 30 alunos na minha sala de aula com portáteis enquanto tento ensinar Português. Será necessário dar poder ao professor para decidir quando mandar abrir e quando mandar fechar o portátil.

    Assisti a pais no início do ano lectivo cuja única pergunta não se relacionou com planeamento do ano, com conteúdos, com estratégias, com a quantidade de alunos na sala de aula, mas com o facto de saber quando chegaria o magalhães e se teriam desconto.

    Acreditem quando digo que o Governo tem de se preocupar em ajudar/ensinar/educar os pais a educar/acompanhar os filhos, tal como fazem no norte da europa sem qualquer tipo de vergonha ou complexo.

    Tentámos fazer ver a alguns pais que a escola é para aprender, e que os filhos precisam de acompanhamento dos pais/encarregados de educação. O magalhães é um acessório.

    A minha preocupação neste momento extende-se ao facto de na mesma turma, uns alunos terem comprado o manual escolar (que inclui fichas de trabalho e 1 CDROM) por 37 euros, e outros por 25 euros. Alguns pagaram o CDROM “por fora” e outros pagaram o CDROM e o livro de fichas “por fora”. Outros nem CDROM tiveram. Há papelarias a cobrar indevidamente partes de um produto que tem preço marcado, e se as crianças/pais questionam, cobram-lhes mais pelas partes. As nossas preocupações extendem-se para além do que muitos pais pensam.
    Na escola já questionámos a editora, que tardará a responder como sempre, para poder informar devidamente os pais.

    Venha o magalhães mas definam com sensatez e pedagogia (sem show-off’s) como usar essa ferramenta (sim, o Ministério controla o ensino a 95% (daí os fracos resultados prácticos)). O ideal seria deixarem-nos decidir, ATEMPADAMENTE, como usar tal ferramenta de apoio ao ensino e à aprendizagem (sim, duas palavras diferentes).

    O ensino é a nossa vida, mas temos de sujeitar as nossas crianças à insensatez de uma grande parte de políticos, que se sujeita ao lobby de empresas. Quando começarão a pensar eles nas crianças, nos pais e nos professores ?

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